sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Um filho é sempre uma supermudança

Enxoval: Parte 2

Como falei no post anterior, tive algumas surpresas quanto às compras que fiz para o enxoval de Francisquinho, mas, como cada caso é um caso para determinados produtos, vou deixar alguns que não usei na lista, mas colocando as devidas ressalvas ao lado, ok?

COMPRAS MAIS $UBSTANCIAIS:
  • berço (caso o quarto do seu filho não seja montessoriano);
  • bebê-conforto (importantíssimo, pois o neném já sai da maternidade acomodado na cestinha e deverá andar  de carro SEMPRE sentadinho ali dentro até 1 ano de vida);
  • carrinho de bebê (mil modelos, mil marcas, mil preços: apenas PESQUISEM MUITO antes de fazer essa compra. Talvez esta tenha sido a minha escolha mais difícil do enxoval);
  • cadeirinha de descanso (ajuda MUITO quando a gente quer que o bebê fique um tempinho fora do braço. Principalmente aqueles filhos que odeiam o carrinho, como o meu);
  • babá eletrônica (como viver sem ela? Sério, acho que depois da máquina de lavar louça, talvez essa seja a melhor invenção do homem. Ela dá a nós a liberdade de viver sem a paranoia do filho acordar, se esgoelar e você não ouvir. Se der, compre!);
  • kit-berço (há mil controvérsias a respeito desse item: que pode  sufocar o bebê, que ele pode escalar e cair do berço, que junta poeira etc. No meu caso eu só posso dizer que sempre evitou muitas cabeçadas de Francisco nas grades do berço, pois meu filho se mexe MUITO ao dormir. Não dava para não ter algo amortizando essas cabeçadas ou ele se machucaria de verdade. Tentei a tela respirável, mas ela não tem esse alcochoado que amortiza as pancadas, por isso não deu certo);
  • luminária/quebra-luz (especial para os momentos de amamentação da madrugada. Imagina se a toda mamada você tivesse que ACENDER a luz na cara do seu filhote?);
  • banheira de pé (foi a minha primeira compra mais carinha, mas superacertada. Ajuda a coluna da gente, é pratica, fácil de limpar e se tiver tampa com trocador, jisuis, é uma bênção. Especialmente para mim, que não tive um trocador de verdade. Me ajudou muito nos momentos "cocôe escorrendo perna abaixo".)
ROUPAS/PANOS/LENÇOIS:

  • bodies (não subestime o poder dessa vestimenta: ela estará com você por MUITO tempo. São práticos, não deixam a barriga do bebê de fora na hora em que você carrega, sacode, balança etc. Tem aberturinha embaixo, que permite trocar a fralda sem causar um transtorno na vida da criança. Quantidades? Acho que uns 10 de tamanhos diferentes já tá bem bom pra começar. Especialmente porque a gente GANHA muitooooooo. 
  • Toalhas de banho (com capuz e com uma fraldinha de pano acoplada, pois os recém-nascidos tem a pele bem sensível e o tecido de toalha pode irritar. Eu tinha umas 3 quando Francisquinho nasceu. Uma dica: hpa tamanhos diferentes, logo, não compre todas elas muito pesquenas, pois se perderão muito rápido);
  • Fraldinhas de pano (quando mais, melhor!! Usa pra TU-DO. Acredite! Meu enxoval contou com umas 20 e comprei muitas outras depois. Como são baratinhas, mete bronca aí!)
  • Lençol de berço (tenho uns 4 lençóis de elástico e não uso lençóis de cobrir por questões de segurança. Prefiro agasalhar bem o bebê com um pijaminha adequado à temperatura)
  • Pijamas (comecei o enxoval com 4, mas confesso que comprei mais outros. A verdade é que eu fazia meus próprios conjuntos de roupinhas para dormir: comprei uns culotinhos baratíssimos e ia combinando com blusinhas também baratíssimas);
  • Macacão (uns 4 também. Ajudam muito, pois são uma peça única, que cobre braços e pernas e não aperta a cinturinha do neném. Sempre amei vestir Francisquinho com eles quando ele era menorzinho);
  • Mantas (usei até uns 4 meses. Tinha muito mais do que consegui usar de fato. Então, recomendo umas duas mantar mais grossinhas (para ambientes com ar-condicionado) e umas 3 mais finas (para forrar superfícies em que o bebê pode ser colocado, inclusive carrinho e bebê-conforto);
  • meias (6 a 10 pares de tamanhos diversos. Até uns 6 meses eu usei meinhas no lugar de sapatinhos, pois são extremamente mais confortáveis. Sapato para bebê é coisa que só adulto gosta);
  • Luvinhas (4 pares está mais do que bom. Depois de 10 dias eu nem usava mais)
  • mamadeiras (recomendo deixar para comprar se for realmente precisar, daí você avalia a quantidade, o tipo de furo do bico, as escovas para higienização e o esterelizador. Tudo SE, SE for precisar);
  • kit higiene (favor, tenha um! Consiste em: garrafa térmica para colocar a aguinha morna que limpará a bundinha do neném -  evite lencinhos umedecidos nos primeiros 100 dias de vida -, um potinho pra colocar a água que sai da garrafa e duas caixinhas para guardar cotonetes e algodão);
  • Balde, bacia, porta-farmacinha, remédios (aguarde, eles virão);
  • cabides para roupa de neném.

PRODUTOS DE HIGIENE

  • sabonete líquido para recém-nascido (daqueles que lavam da cabeça aos pés);
  • álcool 70%;
  • algodão (rolos e mais rolos daqueles enormes! Para limpar o bumbunzito do baby);
  • lenços umedecidos (inicialmente eu só usava para limpar o neném quando eu estava fora de casa, pois, em casa, eu preferia fazer a higienização com água morna e algodão);
  • fraldas descartáveis (a perder de vista! Faça estoque, mas cuidado com as numerações! Eu, por exemplo, ainda tenho vários pacotes de tamanho M porque Francisquinho pulou para o G sem conseguir usar todas as menores. Avalie isso direitinho! Tem uma lista estimativa dessas numerações circulando pela internê).


SUPÉRFLUOS QUE ME FORAM ÚTEIS

  • mesinha de canto para colocar o kit higiene no quarto;
  • cadeira de balanço para as noites insones de amamentação.

Espero que eu não tenha esquecido de nada. LEMBRANDO que os itens que destaquei são aqueles que julgo necessários para a criança NASCER. Por exemplo, não coloquei babador, pratinhos e colheres porque eles vêm muito depois, ok? Outra coisa, conforme falei no post anterior, descartei alguns produtinhos que são tidos como necessários, mas que, para mim, não funcionaram. Como estou falando da MINHA EXPERIÊNCIA, não coloquei aquilo que não me serviu. 

Enxoval: Parte 1

Enxoval parece uma coisa que não tem fim. A gente senta. escreve uma listinha, acha contemplou os mínimos detalhes, mas, quando vê, ainda tem coisa para comprar. Então, meu primeiro conselho para as gravidinhas é: tenta focar naquilo que seu filho precisa para NASCER. Digo, o que o seu bebê vai realmente precisar nos primeiríssimos meses de vida, sabe? Por que estou dizendo isso? Simplesmente porque você não CONHECE ainda sua criança, esta que há de ter algumas necessidades próprias ou não. 

Exemplo: bomba de leite. Comprei, experimentei e percebi que para o meu filho aquilo era completamente inútil. Primeiro porque eu estava SEMPRE com ele, segundo porque ele tinha uma pega maravilhosa e terceiro porque minha ordenha manual sempre foi tranquilíssima. Eu demorava muito mais tempo para tirar leite com a bombinha (a minha era a manual, tá pessoal? A outra, elétrica, dizem que é uma glória, mas é cara para dedéu!). 

Outro exemplo maravilhoso é a tal da mamadeira. Veja bem, a despeito de todos os estudos que mostram o quanto ela pode atrapalhar no processo de amamentação etc., eu comprei TRÊS kits. Eu SABIA que queria amamentar e que iria fundo nessa missão o quanto fosse necessário, mas, sei lá, confesso que fiquei com medo de matar o menino de fome caso desse algo errado. E foi por isso que comprei um milhão de mamadeiras. Resultado: Francisco não apenas não usou mamadeiras até 6 meses de vida como hoje, aos 10 meses, só gosta de UMA mamadeira que NÃO faz parte desses kits anteriormente comprados. 

Mais um exemplo (para deixar o mais didático possível): Almofada de amamentação. Em todos os sites, vlogs, conversas com mães etc., geral me falava que TINHA QUE TER almofada, que ajudava demais a posicionar o bebê na hora de amamentar, que descansava o braço e ajudava a postura da mãe. Acho que eu usei umas 5 vezes, tentanto, mas nunca funcionou muito bem. Francisco tinha posições muito únicas para amamentar nos primeiros meses e depois disso a almofada ficou ainda mais inútil PARA MIM. Algumas mães se deram superbem com a tal almofada... então, parece que cada caso é um caso.

O que eu quero dizer com tudo isso? 

Não tente abarcar o mundo com as pernas. Sempre vai faltar alguma(s) coisa(s) e sobrar outra(s) na sua listinha inicial. É o caso de deixar nascer o filho, sabe? 

Outra dica importante é ter cuidado com produtos de custo muito alto que estão fora do essencial para o neném vir ao mundo. Como assim? Um berco (se você não for optar pelo quarto montessoriano) é um gasto normalmente alto, mas essencial: a criança precisa ter onde dormir. Ok. Um esterilizador de mamadeiras talvez não seja tão essencial assim. Se você tiver a mesma experiência que eu tive, talvez nunca chegue a usar.  Espera a necessidade acontecer. 

No próximo post, vou tentar fazer uma lista criteriosa das coisas que comprei e que realmente me ajudaram. Lembrando que seu filho é um e o meu é outro e que você é uma mãe e eu sou outra. Nós algumas demandas bem diferentes. Mas, fica tranquila, as lojas todas continuarão por aí depois que seu neném vier ao mundo. Tem tempo para tudo, gravidinha. Respira!





quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Culpa, estranha culpa

Faz meia hora que meu filho foi passar o final de semana com os avós e tem um dia que a culpa e sa saudade já tomaram conta de mim.

Pais, em geral, vão precisar aprender rápido a lidar com a culpa. Ela se apresenta nos mínimos detalhes do dia a dia: na febre que a gente não consegue controlar, na comida que o filho não quer, na queda, no choro, na vontade de dormir que toma conta da gente nas madrugadas a fio, em praticamente tudo.

O importante é ter em mente: a gente faz o que é POSSÍVEL. Eu aderi à campanha "sou uma mãe possível", mas a verdade é que a culpa ainda me toma mais do que deveria.

Então, toda vez que meu filho vai passar um final de semana com o pai e/ou os avós, eu fico feliz-triste. Fico contente porque eu preciso daquele tempo para descansar, cuidar de mim, procurar voltar um pouco à minha vida profissional, inclusive, ler, interagir com o mundo, sair ou simplesmente dormir 8h seguidas, Mas, por outro lado, uma vozinha do além fica me dizendo que sou uma péssima mãe por isso.

Sei MUITO BEM que essa voz é um reflexo do machismo que paira na nossa sociedade, que exige da mãe o sobrenatural, que é algo tão ultrapassado quanto mentiroso, mas ainda assim, essa voz se mistura com o sentimento REAL da SAUDADE e consegue me balançar bastante quando Francisquinho se afasta por uns dias de mim.

Venho tentanto colocar na cabeça que esse afastamento é tão importante para mim quanto para ele. Francisco precisa dessa convivência com a família, de criar novos vínculos, de aprender também a entender que eu estou mesmo na ausência, que ele me tem muito além de fronteiras, quilômetros etc. A gente está junto no matter what. E é realmente necessário para mim esse descanso, esse retorno ao mundo real além-maternidade, para que eu possa ser uma pessoa bem melhor para meu filhote.

Como diria aquele brega-filosófico "O mundo gira, o mundo é uma bola". E se a mamãe cochilar, a força centrífuga me joga para fora da roda. É preciso o retorno, é preciso encontrar esse limiar entre ser mãe e ser profissional, amiga, pessoa, e todas as outras vocês que te cabem, inclusive, para garantir dias melhores para seu filho, uma educação equilibrada, juízo no lugar.

Então, quando a culpa bater, pense nisso, só um poquinho: a gente faz o que é POSSÍVEL, o melhor POSSÍVEL. Tem sido meu mantra.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Da série "Bons pais à serviço da sociedade": Parte 2: Pais de menino X sociedade machista

Para ser honesta, neste momento, pipocam tantos pontos a serem contemplados na minha cabeça que eu não sei nem por onde começar. Desde já, perdoem-me a possível confusão mental e digressões, mas é que escrever sobre um tema como esse pede uma maturidade de escrita que me falta.

Desde o momento em que os pais anunciam à família que tem um bebê a caminho, surge o papo do “e o sexo?”, “é menino ou menina?”. A curiosidade é completamente compreensível, a vontade de começar a imaginar quem está por vir é, inclusive, uma parte bem deliciosa da gestação. O que, definitivamente, não é normal é querer colocar o sexo da criança como algo determinante para sua criação.

Foi a partir do quinto mês de gestação que descobri que meu filho tinha um penizinho ali. Isso não significa – alô, sociedade! - que ele tem que usar azul, que todos os brinquedos dele deverão ser “incentivadores” da virilidade masculina, que abolirei a cor rosa do enxoval, que terei de falar grosso com ele, que ele será incentivado a esconder toda sua sensibilidade, seus sentimentos, suas habilidades artísticas ou a vontade, por exemplo, de brincar com uma boneca – ou mais de uma, se ele quiser!

É preciso, primeiro, DESEXUALIZAR as crianças. Parem de ver namoro numa amizade entre crianças, parem de achar que se seu filho quer se fantasiar de fada, ele vai namorar o vizinho. A imaturidade é dos pais em lidar com essas situações dessa forma. Crianças são apenas crianças e, pelo amor de deus, devolvam a elas a ingenuidade que lhes cabe.

Sabe o que diferencia os pais de menino dos pais de menina? Ao meu ver é APENAS uma responsabilidade GIGANTESCA de educar aquele cidadão – contra o tsunami do machismo – a respeitar as mulheres. Esse respeito não é o que se intitula “cavaleirismo”. “Cavaleirismo” é uma forma antiquada de machismo disfarçado de gentileza, que apenas coloca a mulher numa posição de fragilidade/submissão diante do homem. O respeito de que eu falo é aquele em que o homem se coloca diante de uma mulher e vê uma pessoa, e não uma vagina, um útero, “beleza/feiura”, “delicadeza”, “feminilidade” etc.

Se tudo der certo e eu conseguir levar a cabo meu plano de transformar Francisco numa pessoa de bem, independentemente do gênero em que ele passe a se reconhecer, ele DEVE respeitar o outro. No nosso contexto social, entretanto, infelizmente, é preciso frisar na nossa educação básica que, muitas vezes, esse “outro” será uma mulher e que essa mulher ainda se encontra em posição desprivilegiada e que ignorar isso também é uma forma de machismo. Em outras palavras, estamos na fase de equilibrar o fiel da balança - AINDA.

Então, Francisquinho, por aqui, vai precisar entender, das coisas pequenas às mais complexas – da louça na pia, que não sabe o que é misogenia, até o direito feminino ao aborto – como as mulheres são vítimas de maus tratos, que vão dos mais sutis e arraigados na sociedade até o abuso sexual em si, o estupro.

Francisquinho, se tudo caminhar bem, não vai virar para a mamãe e gritar “cadê meu tênis?”. Ele pode chamar o papai também, ou, se idade tiver, procurar por si só seus objetos, por que não? Francisquinho vai saber que se ele precisa de uma roupa passada, ele precisa APRENDER a passar; que mulheres não nascem magicamente habilitadas às tarefas do lar, que isso foi uma construção cultural, que, se um dia fez sentido, hoje é algo risível quando imposto. Meu filho há de compreender que a “brincadeira de boneca” foi um artifício educacional para dizer assim: “mulheres é que criam filhos”. Enquanto a “brincadeira de carrinho” diz assim: “o homem proverá”.
Francisquinho vai rir disso tudo, mas um riso sério de quem debocha porque não vê a vida dessa forma; um riso de quem entende que a sociedade mudou – ou tem que mudar. Ele vai olhar para a mãe e entender bem que a gente constrói nossa figura social, nosso papel, nossos caminhos; que não há nada determinado por saias ou calças. E quando alguém utilizar aquele “argumento riquíssimo” de que “homem é assim”, ele há de levantar o dedo e dizer que ali está um caso em que não, em que essa prerrogativa não se aplica. Ele será sim o diferente.

Os pais de menino tem essa função IMPORTANTÍSSIMA de não colocar mais um imbecil na roda. De não vai bater palmas quando um tio questionar sobre a namorada da vez do filho ou chamá-lo para “caçar” mulheres. Os bons pais de menino vão explicar exatamente a seu filho que quanto mais macho ele for às vistas do tio, menos homem ele estará se tornando. Que colecionar mulheres é uma busca vazia por um autorreconhecimento no clube do machismo.

E os pais de menina?

Os pais de menina, no mundo que quero construir com meu filho, vão se sentir mais tranquilos. Vão parar de dizer às suas filhas que elas precisam casar, se arrumar para o marido, ter filhos, calar-se diante de machismos sutis do dia a dia. Porque será um mundo em que as mulheres não estarão mais submetidas do jugo do pai ao jugo do marido, que não serão passadas no altar de um ao outro, como se sua existência estivesse sempre à mercê de barras de calças. 

A mulher, no nosso mundo – né, Francisquinho? -, vai ser o que ela quiser.






quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O sono do bebê

Definitivamente, dormir não é o forte do meu filho. E acho que muitos pais por aqui vão se compadecer com a minha história.

Nos primeiros dias de vida, entretanto, Francisquinho dormia tanto, que era possível carregá-lo, remexê-lo, falar alto, talvez tocar uma banda de frevo do lado dele, que nada acontecia, o sono era inabalável. O problema era que esse sono todinho acontecia de dia.

As primeiras duas semanas foram bem difíceis para mim. Era de 21h às 9h em claro. Sempre tinha um que vinha com “quando o bebê dorme, a mãe dorme, Amanda”. Verdade, mas além de dormir, eu queria comer, tomar um banho, lavar meu cabelo e dar uma vividinha, quem sabe. E nesse meio tempo, acontecia de ele chorar e eu nem ter tirado o xampu da cabeça ainda. Então, se me permitem um conselho: se entreguem um pouco nesse período mesmo. Termina sendo menos cansativo do que lutar contra esses primeiros dias de adaptação, tanto dos pais quanto do neném.

Lembro-me perfeitamente da seguinte cena: eu sentada na cadeira de balanço, amamentando sem fim, tentando lutar para segurar as pálpebras abertas, com medo de derrubá-lo, enquanto o pai semidormia no outro quarto segurando a babá eletrônica. Walking dead era pouco para resumir a vida da gente naquele comecinho. E acho até que passamos relativamente bem por essa fase, sabe? Não houve muito desespero. A preocupação era tanta em entender aquele novo ser humaninho, que conseguir alimentá-lo dignamente já era uma vitória. E quando isso acontecia, o sono acabava por chegar.

Chorando ao pé do ouvido da pediatra, ela deu luz aos pais cegos e de primeira viagem, a primeira dica valiosíssima que tivemos naquele momento: ela nos apresentou a ideia de rotina, que tento, diariamente, seguir religiosamente durante a semana. Nos finais de semana, confesso, a coisa fica meio esculhambada. Mas também não dá pra robotizar demais a vida, né?

Com a rotina, Francisquinho também aprendeu a prever o passo a passo do seu dia. Os horários foram ficando mais ou menos determinados. É claro que cada idadezinha foi pedindo novas adaptações, mas sempre insisti nessa ideia das atividades diárias acontecendo sem grandes mudanças, sabe?

No primeiro mês, Francisco dormia no berço e eu dormia numa cama ao lado, no quartinho dele. A partir do segundo mês, quando ele começou as vacinas, passou a compartilhar a cama de casal (dá um google aí em “cama compartilhada”. Tem estudos interessantíssimos sobre as benesses dessa modalidade de sono), comigo, no meu quarto. Eu encostava a cama na parede e tomava as devidas providências para que a dormida fosse segura. Foi assim que eu me senti mais confortável naquele momento. Eu queria ter a certeza de que eu poderia controlar as reações das vacinas, aferir a temperatura, ouvir qualquer choramingo dele bem pertinho de mim. Até hoje, sigo acreditando muito numa máxima que diz que “quando a mãe está bem, a criança normalmente também fica bem”. Foi assim que, até o terceiro mês, dormíamos juntos e superbem.

Àquela altura, meu filho já tinha entrado mais ou menos numa rotina e conseguia dormir 8h seguidas durante a noite (“glória a Deus, senhor!”). Mal sabia eu que isso duraria tão pouco.

No quarto mês, devolvi Francisco ao berço, com a ideia de adaptá-lo ao seu quartinho para que ele visse aquele ambiente como um lugar de relaxamento e identidade. Na minha cabeça, ele precisava ter um espacinho dele na casa. E deu supercerto. Ele não sentiu a menor diferença – pelo menos aparentemente – quando mudou seu sono para o bercinho.


Tudo ia às mil maravilhas e eu vivia a lua de mel com minhas 8h de sono noturno. Até que, por volta do quinto mês, Francisco já dava sinais de que precisava iniciar a sua introdução alimentar. Como ficou evidente isso? Ele acordava a cada UMA hora para mamar durante a noite. Se eu tivesse muita sorte, conseguia dormir DUAS horas seguidas. Mas segurei – nem tão firme e nem tão forte – a onda.

Minhas olheiras já alcançavam a boca quando Francisquito começou a introdução alimentar. Comendo muito mal, obrigada, as dormidas não mudaram muita coisa e seguiram bem ruins. Além disso, ele nunca foi dado aos cochilos de dia. Até hoje, costuma dormir 20 min pela manhã, por volta das 10h, e mais uns 20 min de tarde, por volta das 14h, e isso é tudo.

Hoje em dia, com seus nove meses, Francisco continua com o mesmo hábito dos cochilos curtos, mas já consegue dormir UM POUCO melhor a noite. Quando eu falo “um pouco”, estou dizendo que, no período de 20h30 até as 7h, em algum momento, ele vai conseguir esticar umas três horinhas seguidas de sono, mas o restante vão ser dormidas descompassadas e interrompidas até acordar de vez, no dia seguinte.

Acredito que a partir do momento em que o bebê começa a se alimentar mais substancialmente, de forma condizente com as necessidades da idade, o sono também vai melhorando. Saco vazio não fica em pé e, definitivamente, não consegue se manter deitado também. Mas, segundo me disseram, há esperanças pós-um ano de vida! Aguardo ansiosamente esse momento!!

Por enquanto, aceito a noite em dormidas homeopáticas e conto com a ajuda de Suzana, que me auxilia aqui em casa, e fica com Francisquito para que eu durma um pouco pela manhã. A gente tem que dar nossos pulos do gato, né? <3

Um conselho que eu acho que pode ajudar é observar onde e como seu bebê parece dormir melhor. Francisco, até uns quatro meses, por exemplo, AMAVA dormir com o pai na rede. Então a gente deixava ele pegar no sono por lá e só depois transferia ele ao berço.

P.S.: Vale lembrar que a OMS - Organização Mundial de Saúde - indica que o bebê deve dormir sempre de barriga para cima e livre de lençóis e objetos que possam causar asfixia, ok? (depois, dá um google nessa informação para mais explicações).

A rotina que, mais ou menos, estabeleci foi:

1) Francisco dorme por volta das 20h30. Aos trancos e barrancos, leva esse sono até, no máximo 7h, quando mama um pouquinho;
2) Ofereço o café da manhã (hoje em dia uma fruta + algum tubérculo) às 8h;
3) Lá pelas 10h, ele toma o banho e acaba relaxando tanto que:
4) Dá um primeiro cochilo da manhã, que não passa de 30 min;
5) Mama assim que acorda;
6) Almoça por volta das 13h30;
7)Cochila às 14h (também uns 30 min);
8) Lancha uma frutinha e/ou biscoito de arroz;
9)Brinca;
10) Toma banho novamente por volta das 16h;
11) Mama mais um tantinho;
12) Janta às 19h e:
13)Toma banho logo em seguida – devido ao caos instalado pós-sopinha hehe. Desse banho, ele já sai de pijama. Não ofereço mais brinquedos e tento criar uma atmosfera de mais tranquilidade na casa: luzes baixas, pouco barulho, pouca movimentação com ele;

14) Às 20h ele toma uma mamadeira de vitamina de abacate, mamão ou banana e acaba dormindo lá pelas 20h30., quando o looping do sono noturno de instala e a gente abraça a guerra firme e forte!


sábado, 14 de janeiro de 2017

Des-envolver

Texto de 19/07/2016

Todos os dias, aproximadamente às 20h, você dorme. E eu sinto um alívio enorme por você e por mim. Por você porque sei que é preciso descanso para crescer. Por mim, porque é preciso descanso pra te ver crescer. Cuidar de você é exatamente a mesma coisa que cuidar de mim. Talvez eu já tenha dito essa mesma frase alguma vez na vida, mas certamente jamais carregada da certeza que tenho hoje.

Você começa a adormecer no meu peito, entre uma sugada e outra. Varia entre descansar a bochecha na lateral do meu tórax, empurrar o seu mínimo nariz no meu mamilo ou, numa puxada forte, cair de cabeça para trás , de papo pra o ar e soltar um suspiro fundo e bem audível. Confesso que, de todas as maneiras, a última é a que mais alivia meu coração.

Suspirando venho vivendo a minha vida há tanto tempo, com um chorinho aqui e outro ali, de forma tal que sei exatamente o valor que o ar colocado pra fora tem pra alma da gente. É artifício de varrer pra fora da nossa existência todo o cansaço, seja físico, seja emocional.

Então, pé ante pé, te carrego num balancinho tímido, sem muito chamego pra não encomodar, e te aninho no berço com cuidado de não acordar. Deixo a minha mão no teu peito por uns segundos só pra te passar o calor da certeza de que você nunca estará sozinho, seja por virgília, seja em pensamento.

Por volta das 4h, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco depois, você me acorda da saudade que já passa da hora de ser matada. E vou, meio sonolenta e descoordenada, aquecer novamente seu corpinho nos meus braços, dar um cheirinho no meio do seu rosto, sem me preocupar se o amor vai na ponta do nariz ou no meio da boca e te alimentar, alimentando-me. Se Deus existe, ele está entre eu e você ali.

Coloco teu sono aninhado outra vez, cuidadosamente, no berço e volto, agora mais desperta, pra saudade. Cuido de dizer a ela que daqui a pouco já é tempo outra vez de morrer e pego no sono novamente. 8h.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Da Série "Bons pais: um serviço à sociedade". Parte 1: Alimentação

Se você cria bem um filho, você está criando bem um cidadão. Ter isso em mente é uma questão de prioridade para mim. E essa afirmativa engloba mais aspectos da vida do que você pode imaginar.

Na alimentação, por exemplo, a coisa pode ser revolucionária se bem direcionada.

Jogar o prato de comida longe: às vezes rola
Existe uma coisa que se chama “Introdução alimentar” (IA). Se vocês aí são pais de primeira viagem e ainda não estão familiarizados com o termo, é bom já ir dando uma pesquisada, conversando com profissionais (médicos e nutricionistas) e amigos que já passaram por isso porque é um momento bem delicado e importante do desenvolvimento infantil. É quando o bebê tem os primeiros contatos com os alimentos além do leite materno (ou outro leite, caso ele não tenha sido amamentado por alguma dificuldade).

Avalie-se você como adulto. O que você come? Faça uma rápida análise sobre seus hábitos, estenda isso às consequências desses hábitos e construa um breve esboço de como vai a sua qualidade de vida. Terminou? Pronto. Agora feche os olhos e imagine uma criança - que tem mais facilidade de aprender com o exemplo do que com a imposição – desenvolvendo-se ao seu lado, observando tudo, com uma fome de aprender que só ela. Esse é seu filho. Ele IMITA você em tudo o que pode.

Voltemos, então, à Introdução alimentar. O pediatra provavelmente dirá que comece a apresentar as frutas ao seu bebê. Se você, pai/mãe, não tem o hábito de comê-las frequentemente, talvez seja a primeira vez que seu filho irá se deparar com o ET-maçã. O quão isso pode dificultar o processo de aprendizagem?

A alimentação é sim um aprendizado. O bebê aprende a comer, aprende os diferentes sabores e aprende também, pasme, a defecar. Isso me foi dito pela gastroenterologista do meu filho quando o levei a uma consulta por causa de uma baita prisão de ventre que ele enfrentou no período da IA – devido a combinação de alimentos equivocada que eu estava fazendo por inexperiência. O fato é que as crianças aprendem a comer com os pais, gente. Tanto a partir do que a gente oferece quanto a partir do que ele observa à mesa de casa.

Francisco, por exemplo, ama tapioca. E eu tenho a nítida sensação de que ele só ama aquela massinha sem gosto (pois ofereço sem sal, sem manteiga e sem queijo: apenas a massa passada na frigideira sem nada) porque é o que eu como todos os dias no café da manhã. Então, ele passou a se interessar por aquilo que ele me vê comendo every single day.

A boa alimentação, quando feita da maneira correta – sem imposições, com paciência, permitindo-se experimentações, voltando ao mesmo alimento sempre que necessário, de forma que dê à criança tempo de decidir se gosta ou não daquele sabor -, é o primeiro passo contra a obesidade, por exemplo. Já pararam pra pensar nisso?

Quando me questionam sobre dar grão de bico, lentilha, amaranto ou uma alimentação sem sal nem açúcar ao meu filho, eu respondo: “eu quero presentear meu filho com o que a indústria de alimentos esconde atrás das prateleiras de papinhas prontas e massas lácteas. Depois de conhecer tudo o que eu puder oferecer de bom e in natura, aí ele vai ter bagagem suficiente para fazer suas próprias escolhas”. Não é como se o meu filho jamais fosse tocar num brigadeiro. Mas é exatamente porque sei – e como sei! - o quanto brigadeiro é delicioso, que eu quero apresentar antes alimentos mais nutritivos e menos prejudiciais. Imagine você se o primeiro contato de um menino com comida for um bolo de chocolate, quando é que ele vai se apaixonar por legumes? O açúcar, em especial, é uma substância que causa dependência, inclusive.

Escolhi, em suma, alimentar meu filho. Que é bem diferente de dar comida. E para isso foi preciso PACIÊNCIA e PERSISTÊNCIA.

Depois, se ele quiser se destruir no açúcar e no sal, quando ele tiver autonomia pra isso, aí já é com ele e a vida. Mas não quero botar mais um potencial cardíaco, diabético, hipertenso etc. na sociedade já tão enferma. Os pais têm de ter responsabilidade nesses primeiros passos também. Apresentar o mundo sob um ângulo mais saudável é uma missão árdua, mas é tão possível quanto recompensadora.

Permita a interação: oi, manga, meu nome é Francisco
E o projeto de educar o paladar infantil é revolucionário. Imagine o tamanho dessa campanha de prevenção? É gigantesco. Alimentar-se bem é o começo da prevenção de uma infinidade de doenças e uma economia para a saúde pública, diga-se de passagem. Além de ser um incentivo ao mercado para se adaptar a um novo consumidor, muito mais preocupado com o que come, muito mais consciente do seu corpo, muito mais preocupado com a saúde. Vocês têm a dimensão do que uma mudança dessas pode significar?

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No mais, aqui vai mais uma listinha que aprendi com a gastro do meu filho:

1) Não adianta nada enfiar comida no menino se ele não bebe ÁGUA. Sim, seu filho, que antes só se alimentava do completo leite materno, agora necessita de uma quantidade de água que vai além da que o “mamá” pode dar, ok?

2) Nada de sal e açúcar nesse comecinho (já falei, mas não custa ratificar). Não vai ficar “sem gosto” a comida. Seu filhote não conhece esses sabores e não vai sentir falta de algo que nunca teve, entende?

3) Não empurre fibra no bebê. A alimentação deve ser balanceada. CONSULTE SEU PEDIATRA e saiba o que isso significa para o seu filho. Saiba quais outros alimentos podem irritar o sistema digestivo do seu neném e quais são aqueles que melhor se encaixam nesse período introdutório.

4) Cuidado com chás e “receitinhas caseiras” que circulam por aí. Lembre-se de que estamos falando de um bebê e de um organismo que está começando a interagir com o mundo dos alimentos e que pode ser bem sensível a algumas substâncias. CONSULTE SEU PEDIATRA/NUTRICIONISTA/GASTRO… CONSULTE, CONSULTE, CONSULTE.

5) Usar colheres de silicone. Elas facilitam na hora de oferecer a comidinha, pois não machucam a gengiva do bebê e não repassam o material de que é feita a colher juntamente com o alimento.

6) Pedir ajuda a outras pessoas para oferecer as primeiras refeições. O bebê tende a fazer corpo mole se é a mãe que oferece já que sabe que tem um peitinho ali dando sopa.

Suja mesmo, muito. Mas vê que fofura!

7) Escolher um ambiente agradável para alimentar o bebê. Assim, ele passará a associar a alimentação a um momento de prazer. Inclusive, acho que nem precisa dizer que não se deve forçar o alimento. Persistir não significa enfiar a colher a todo custo. Persistir é ser criativo na hora de oferecer a comida: cante, brinque, faça o neném interagir com a comida.

8) Observar os sinais que seu filho dá em relação ao momento da alimentação e procurar repetir aquilo que o agrada.

9) Desestresse, Vai sujar tudo sim. Evitar que isso aconteça só vai te render dor de cabeça e frustração. 

Essa discussão alimentar não tem fim. Em breve, certamente terão mais alguns relatos sobre a minha experiência prática com Francisquinho. Afinal, ainda estamos nessa luta por aqui. Quem souber outras dicas, favor lembrar da mamazita aqui. #tamojunto.



ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA: ofereça o tempo todo!!

A mala da maternidade

Atenção: esse post não tem serventia para mães que optaram pelo parto domiciliar.

Eu não sei você, mas eu, quando entrei nesse barco da maternidade, não sabia para onde apontar o meu leme. Aos poucos, fui me familiarizando com questões que eu nem sabia que existiam. Uma delas é a tal mala da maternidade.

“Lógico, há uma mala”, pensei. “Aliás, duas: a minha e a do bebê”. Afinal, ninguém ia sair pelado pela rua pós-parto.

Quando eu via essa história em filmes, a mulher correndo*, com a bolsa estourada e a mala na mão, não pensava que havia tanta discussão em volta de uma sacola de roupinhas. Mas a coisa não era tão objetiva assim como eu pensava.

Por mais que você seja uma pessoa extremamente prática, sem rodeios nem mimimis, a tal mala da maternidade desafia seu pragmatismo, especialmente se você for, assim como eu, mãe de primeira viagem.

Vou começar pelo óbvio, pensei: roupas. Quantas? O que são roupas para quem acabou de nascer? Ele tem frio ou calor? Precisa levar fraldas? Ele já toma banho com xampu? Mas eu nem sei se ele vai ter cabelo. O que mais um serzinho que acabou de nascer precisa?

Confesso que quando dei um google (sim, eu dou um google pra quase tudo na vida), fiquei espantada com a quantidade de informação sobre esse assunto. Me assustei com a quantidade de gente preocupada com esse tema e logo estranhei. Não pode ser tão complexo isso, minha gente.
E nisso eu estava certa: era uma encheção de linguiça sem fim. Fora que eu precisei filtrar as informações por estado, porque alguns bebês iam ter necessidades diferentes a depender da região em que ele ia nascer; o clima, por exemplo, influencia muito nas escolhas dessa malinha.

Levei essa dúvida ao meu obstetra, que me deu o caminho das pedras: “no site da maternidade vai ter uma lista do que você deve levar. Tende a ser algo bem básico, então, liga pra lá e se informa melhor”. E assim o fiz.

Cheguei à seguinte conclusão: 6 mudas de roupa eram mais que suficientes para cobrir os dias em que eu ia me manter no hospital e possíveis acidentes – cada muda incluía um body, um macacão para usar por cima do body (ou um conjunto de calça e blusa de manga comprida), meias e luvas. Tem mães que curtem o gorrinho pra proteger a cabeça. Confesso que acho horrível e pulei essa parte. A quantidade de mudas não foi aleatória, afinal, bebês fazem cocô e ele nem sempre vem da forma como nós esperamos, não é verdade? Então pensei em duas mudas por dia, para cobrir eventuais contratempos. Outra coisa: ninguém pode prever o tamanho exato do filho que vai nascer, então, algumas roupinhas podem se ajustar melhor e outras não. Isso tudo são dicas que me foram dadas pela recepção da maternidade onde Francisco nasceu.

Indicaram que eu levasse mantas e lençóis para o moisés que iria ser colocado ao lado da minha cama, lenços umedecidos para qualquer higienização, algodão (para limpar o bumbuzito dele, sem atritos ou agressões de nenhum produto químico), álcool 70% e cotonetes para limpar o coto umbilical e foi isso.

Eu, como tenho muitos problemas de lidar com a dúvida, levei também um pacote de fraldas tamanho RN* só para garantir e duas fraldas de pano para cada dia. Juntamente com o álcool-gel, para higienizar as mãos, as fraldinhas de pano foram fundamentais para limpar babas e apoiar nos ombros dos visitantes que queriam colocar Francisquinho no colo. Nesses primeiros dias, é fundamental livrar o bebê de qualquer contato com sujeirinhas mundanas, pois ele está completamente descoberto de anticorpos/vacinas.

Tudo que foi usado nos banhos foi fornecido pela própria maternidade. Normalmente é assim, mas não custa você se informar previamente.

A minha mala foi ainda mais simples: 3 camisolas que possibilitassem a amamentação e 3 robes para os dias dentro do hospital, apenas uma muda de roupa confortável para voltar para casa, calcinhas e sutiãs de amamentação* e absorventes SUPER, pois, se você aí não sabe, no pós-parto sangramos durante uns 15 dias mais ou menos, como uma big menstruação.

Se você optar por usar cintas pós-parto, coloque desde já na sua malinha. Depois que o bebê nasce, a barriga fica pendurada e é uma sensação desconfortabilíssima. A cinta pode te dar um conforto nisso aí. Confesso que usei pouco. Não queria nada me apertando naquele momento. Então, resolvi que depois da segunda semana é que eu ia ver se eu queria ou não incluir mais aquele elemento no meu mundo já confuso da maternidade.

Dito isso tudo, precisamos falar sobre gastos.

A primeira esparrela na qual você pode cair é no conto das “roupinhas de maternidade”. Em algum momento da vida, alguém decidiu que elas são caras, sofisticadas e precisam ser assim. Eu cá te digo: não, não precisam.

Minha mãe caiu nesse conto e comprou uns três ou quatro conjuntos de roupa desse tipo e gastou o equivalente a um carrinho de bebê nessa história. Resultado: usei as roupinhas umas 2 vezes depois do hospital e acabaram não servindo mais. Primeiro porque elas tendem a ser superpequenas, - afinal se propõem a servir num bebê que acabou de nascer – e, segundo, normalmente, são superquentes.

Por isso, não caiam na besteira de se encantar com essas conversas e terminem doando um rim pra pagar roupas que serão utilizadas, no mais das vezes, apenas na maternidade. Pelo menos, essa é a minha forma de encarar as coisas. Pois há tantas necessidades a serem consideradas num enxoval, que é bom ter em mente gastar com aquilo que realmente faz diferença.

Francisquinho ficou muito bem assistido por sua malinha. A primeira roupinha foi a que o pai usou no dia do seu nascimento. Era verdinha, de linha, uma lindeza. Nos outros dias, prestigiei os conjuntinhos que minha mãe havia comprado e, por fim, no dia da saída da maternidade, Francisco estava vestido de vermelho, conforme aquela tradição que diz que a cor traz saúde pra criança. Eu acredito em tudo que é bom. A roupinha também havia sido do baby-dad e ficou uma belezura!

Notas:

*A mulher não precisa correr quando a bolsa estourar. Há tempo de sobra pra tudo, se acalmem. A natureza é sábia.

*Tamanho RN diz respeito à recém-nascido.

* Há muitos sutiãs de amamentação no mercado. Você não precisa usar aqueles marrons feiozinhos se não quiser. Eu usei os marrons feiozinhos porque simplesmente os sutiãs, naquele momento, eram as últimas das preocupações que eu tinha. Mas opte sempre pelo que vai te fazer se sentir bem. 

domingo, 8 de janeiro de 2017

Tem que ter peito



“Aleitamento materno exclusivo e em livre demanda até o sexto mês de vida e continuado, juntamente com outros alimentos, por dois anos ou mais” é o recomendado pela OMS – Organização Mundial de Saúde. E virou meu mantra desde a gravidez e minha fala decorada aos incomodados até os dias de hoje.

(É impressionante como as pessoas se aperreiam com a amamentação de Francisco. O peito é meu, o filho também, a disposição é dos dois e nego não cansa de dizer: “esse menino ainda mama?”, “esse menino vai ficar atabacado”, “esse menino vai é te manipular”, “e não vai largar esse peito nunca?”, “se chupasse chupeta não vivia pendurado” etc. Se eu for escrever um texto para cada voto contra as minhas escolhas como mãe, esse blog vai virar um manifesto pela liberdade materna haha! Então, resolvi mudar o rumo da prosa e me deter no relato da minha experiência para ver se ajuda alguma mãe precisada.)

Quando Francisquinho nasceu, a primeira pessoa a conseguir fazer ele pegar o peito foi o pai. Ele simplesmente deitou aquela miudeza de gente de cara pra o meu peito e funcionou. Parecia que ele tinha colado à vácuo a boca no meu mamilo. Abocanhou a auréola toda, como se fosse um peixinho, assim como cursos de amamentação por aí ensinam. A nossa dificuldade por aqui definitivamente não foi “a pega”.

Todavia, não precisou nem de dois dias para que ficasse evidente para mim qual seria o meu maior obstáculo: a dor.

Durante a minha gestação, os mamilos escureceram muito e ficaram visivelmente mais proeminentes. Eu tinha completa convicção – tadinha de mim – que eu ia ser daquelas mães que superamamentam assim que o bebê nasce, numa boa, sem grandes complicações.

Ledo engano. Foram umas duas semanas de uma escolha muito clara para mim: ou eu chorava e Francisco se alimentava, ou ele que choraria, de fome. O que me parecia mais razoável? Escolhi sofrer um bocadinho e dar a ele o que era seu de direito.

Eu sabia que ia passar. Li mil relatos e conversei com algumas mães que passaram por isso. Não dói pra sempre, é o que posso dizer a qualquer uma que estiver passando por isso. No meu caso, sangrou, fez casca de ferida, pedrou. Eu colocava bolsa de água quente, casca de mamão e banana: aliviava, mas a verdade é que nada resolve. Ouvi dizer que existe uma pomada* também, mas sempre falava que ia comprar, ia comprar, ia comprar… parou de doer e eu nunca comprei.

O que eu quero dizer com isso? Amamentar é uma decisão difícil, mas importantíssima. Com isso, não quero hostilizar aquelas mães que por algum motivo não conseguiram. Todas as alternativas ao leite materno estão aí para serem usadas quando necessário. A minha intenção é apenas incentivar todas as recém-vaquinhas a tentarem. Na verdade, a insistirem. E o primeiro conselho que eu dou é: evite escutar. Isso mesmo. Nenhuma pessoa que estiver te apoiando nesse momento vai te incentivar a continuar chorando, simples assim. Todo mundo vai querer teu bem de imediato e, por isso, vão aparecer com mil fórmulas mágicas para cessar o teu sofrimento. Nesse momento, feche os olhos e pense em mim dizendo VAI PASSAR. São só alguns dias de dor para que seu filho tenha uma saúde salvaguardada por todos os nutrientes, anticorpos e aconchego que só seu corpo é capaz de oferecer. Depois de pouco tempo, prometo, não dói nem mais um tiquinho.

Francisco hoje tem nove meses e dentes. Sete. Ele morde meu peito de vez em quando. Se dói? Dói sim. Mas nem se compara a dor que eu sentia nas primeiras semanas. Entende o que eu quero dizer? Passa MESMO! Passa ao ponto de dentes não fazerem mais tanta diferença assim.


Hoje, quando me perguntam se eu gosto de amamentar, eu respondo que é o remédio para todos os problemas. A humanidade deveria ter um big peitão. Não haveria fome, tristeza, choro, carência, nada. É prático, é orgânico, é sustentável, é lindo.

*O nome da pomada é Lansinoh.

O útero é de quem?

É muito louca mesmo essa história de nascer, hein? Pense aqui comigo: o mundo não tinha aquele ser e agora tem. Uma celulinha aqui, outra celulinha ali e pum: um milhão (?) de genes se cruzam e formam o quê? Uma PESSOA. Eu sou uma dessas das ciências, mas tenho que admitir que há certa magia nisso tudo. Já pararam pra pensar sobre isso, assim, dessa forma? E o peso da responsabilidade de colocar esse balainho de genes no mundo são e salvo, nutrido, com todas as ultrassons em dia etc.? É pedrada, meu amigo! Mais pedrada ainda é entender que você é ele, ele é você, vocês são um combo, mas, na verdade, tudo isso vai se dividir em breve. Pois é, ser mãe é entender que vocês tão juntos na gravidez, para se separarem já, já, para, na verdade, estarem atados num nó cego pra o resto da(s) vida(s).

Resto da vida é tempo pra c#$*#$%!

Dito isso, ser mãe é pra quem QUER.

Parem com essa ladainha antiga de “instinto materno” e vão dar mais um googlezinho aí numa senhora marrenta chamada Simone de Beauvoir, que se ocupou muito desse tema e sabe das coisas. Ou, em outras palavras: faz é tempo que se sabe bem que não é porque há útero que ele precisa ser usado. Pra quem não estiver a fim de grandes leituras (nos dois sentidos), aqui vai uma analogia simplista sobre “instinto”: se instinto fosse determinante, estaríamos todos cagando em praça pública, pense nisso!

Sabe o que me admira mais nesse papo de “instinto materno”? É que a natureza é convocada como critério determinante para que a mulher tenha que engravidar, mas, em contrapartida, a menstruação, os pelos, nossos cheiros etc. ainda são um tabu. A mulher passa a vida inteira precisando disfarçar que é mulher e que, ora, tem útero, e, ora, ele descama todo mês, veja só. E, de uma hora para outra, ela PRECISA ser mulher e MÃE porque alguém, em algum momento, disse que toda mulher só o era se parisse. É preciso apenas dois neurônios deficientes para perceber que isso não faz o menor sentido.

Se eu ouvir mais uma pessoa falar em “relógio biológico” em pleno 2017, eu nem sei. Parem com isso, gente, parem de acertar os ponteiros dos relógios alheios. Vão fazer suas escolhas dentro das quatro paredes do seu lar. E se isso da outra ter de ser mãe te incomoda tanto, eu, como mãe, vou te dizer uns motivinhos aqui pra ao menos fazer você refletir um tiquinho.

Primeiramente, vamos entender uma coisa: sim, há uma intenção da natureza de nos colocarmos em constante propagação da espécie, de nos mantermos nesse mundo.. Mas, como sabemos – seja pela experiência de estar-no-mundo, seja por nossas aulas de história -, o ser humano há muito saiu do primitivismo e entrou no mundo das escolhas, não é verdade? Dito isso, me parece muito plausível uma mulher não querer carregar o peso da existência de outro ser vivo. É, de longe, a maior responsabilidade que um ser humano pode ter. Você já parou realmente pra pensar sobre isso?

Deixa eu te contar uma coisa: a mãe é uma mulher que passa um parte da vida tentando fazer o filho se manter vivo. A outra parte da vida, ela vai tentar fazer esse ser humaninho ser uma pessoa de bem. Você acha mesmo que é missão pra todo mundo querer esse compromisso de eternidade com um outro? Adianto que são muitas as privações – ainda que haja muita alegria no caminho.


“Ah, Amanda, mas é o maior amor do mundo, o maior amor que uma pessoa pode sentir”. Eu acho o maior amor que EU já senti. Se é o maior amor que uma outra pessoa pode sentir eu não posso dizer. Há uma infinidade de amores que não vivi para comparar. E uma pessoa pode escolher não querer viver esse amor também. Apenas, let it go, pessoal! Vamos acabar com essa patrulhinha do útero alheio e arrumar uma lavagem de roupa, uns pratos na pia. Vamos gastar nossa energia com uma solução para o aquecimento global? Estamos combinados? Então, tá.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Empatia: favor, tenha.

O primeiro mês do bebê em casa pode ser resumido com a palavra medo. Eu tinha medo de ele morrer a cada minuto. Se ele estava acordado: eu ia afogá-lo no banho, ia derrubá-lo do braço, ia matá-lo de frio ou o menino ia morrer de inanição, pois eu achava que também existia uma fórmula perfeita e intangível para a amamentação correta. Se estava dormindo, por mais que eu desse graças aos céus, eu ficava checando a respiração do póbi pra ver se ele continuava vivo, acreditem.

Lembro perfeitamente da visita de uma tia que disse a seguinte preciosidade: “quando tive meu primeiro filho, eu acordava assustada no meio da noite e olhava pra o berço pensando: 'meu deus, essa criaturinha é totalmente dependente de mim'”. A autora desse relato é uma gênia! Era EXATAMENTE aquilo. Estava perfeitamente traduzida a sensação que eu tinha no primeiro mês de Francisco, mais especificamente nas primeiras duas semanas.

A verdade é que a gente precisa de um tempo para entender que não estamos mais “all by my self”. Há uma pessoinha ali, desprotegida, completamente dependente, que precisa da gente no prumo pra tomar todas as decisões, das pequenas às gigantescas. E tudo parece gigantesco no início. O banho pra mim, por exemplo, foi como pular uma fogueira de costas. Eu tremia mais do que vara verde no primeiro; tremia um pouco menos no segundo; no terceiro, vai, eu continuei tremendo também...mas uma hora os tremeliques e achaques passam. Sabe por quê? Porque vão surgindo novos e vamos nos reinventando também.

E o que podemos fazer nesse momento? PEDIR AJUDA. Claro, por que não? Ajuda dos familiares, ajuda de quem quiser/puder/souber ajudar. Somos todos responsáveis por uma criança que nasce, pessoal. Somos mesmo. Vivemos em comunidade. O filho é meu, mas a criança é nossinha da silva. Vovó ajuda, titia ajuda, amiguinho ajuda, geral ajuda. Pai e mãe criam! (Favor, dá um google aí: Hel Mother. Uma youtuber fantástica que vem se ocupando de meter uma real nas fuças da sociedade.)


Você aí, quer ajudar uma mãe de primeiras semanas? Dá uma passada na casa dela. Leva comida pronta. Ela vai amar. Leva dois dedos de prosa. Leva 15 min de paciência pra segurar o filho dela no colo enquanto ela lava o cabelo. Leva atenção à mãe e não apenas à criança. Ajuda muito. Porque a maternidade nos primeiros meses é de uma solidão sem tamanho. Parte por culpa do baby blues (dá um google aí também. Informe-se!); parte porque a mãe veste a capa da invisibilidade, parece.

E-M-P-A-T-I-A. Palavra linda, mas ainda pouco usada. Vamos praticar um pouco? Então vamos lá:

1) Não diga para a mãe se cuidar. Além de não ajudar, coloca autoestima dela - que já deve estar fraca das pernas - no bueiro. Imagine você uma criatura com o peito descamado, cheiro de leite na roupa, noites em claro e olheiras profundas, sem tempo nem pra ir ao banheiro. Tempo? De onde ele vem, o que ele come? Amiga, se não der pra elogiar, não precisa. Apenas não mande ela se cuidar. Juro que ela tá tentando como pode isso aê;

2) Se for de maior proximidade, pergunte se ela quer que você durma uma noite lá pra ajudar com o bebê. Às vezes, tudo o que a mãe quer são duas horas seguidas de sono, sem interrupção, pra se reestabelecer e ser capaz novamente;

3) Chame a mãe para sair de casa. Mães amam comer rapidinho ali;


4) Faça visitas sempre que possível. Mães seguem gostando de conversar, mães seguem se interessando pelos paqueras das amigas, mães seguem sendo uma pessoa além de mães.

TPM sem M.

Que não rola menstruação na gravidez todo mundo já sabe e levanta as mãos pra o céu por isso. Afinal, poucas são as mulheres que levam de boa esse periodozinho do mês, né? Mas a má notícia é que a TPM segue firme e forte, ao menos alguns sintomas dessa danada.

Se teve uma coisa que eu aprendi com a gestação é que o nosso corpo se comunica com a gente a todo momento. Desconfiei que estava grávida, por exemplo, porque comecei a interpretar as mudanças apontadas pelo meu organismo. À primeira vista, todas elas podiam facilmente ser confundidas com a preparação do corpo para a descamação do útero, a menstruação: peitos e barriga inchados, certo incômodo nas costas, canseira nas pernas e a pele mais oleosa. Descobri, entretanto, e com grande susto, que todos esses eram também sintomas das primeiras semanas de uma gravidez.

Meu primeiro trimestre foi na base do cabelo revoltado, espinhas em erupção, uma autoestima no pé e frituras e chocolates. E vou te dizer: os médicos que me perdoem, mas batata frita foi fundamental. Eu me sentia a pessoa mais feia do mundo, nenhuma roupa cabia direito e, ao mesmo tempo, eu não era grávida às vistas de quem passava. Me sentia uma gorda feia e que se “ajudava” comendo ainda mais e pior. A boa notícia é que tudo isso PASSA! Quando chega o quarto mês, você passa a se ver linda. Sim, porque é muito mais uma questão também de dentro pra fora do que de espelho.

Entretanto, não vou poder falar o mesmo das variações de humor...essas, minha amiga, agarre-se nelas e aprenda a lidar, pois, na maioria dos casos, irão te acompanhar por um BOM tempo. São exatamente aquelas vividas dias antes da menstruação, só que elevadas à décima potência.

Tudo era motivo de choro durante a minha gravidez. Eu vivia o mundo à flor da pele. Mas não era exatamente negativo isso. Acho que a sensação era de que tudo era mais digerido pelo coração, tudo. Nada passava despercebido. Se eu já era analítica com as pessoas, uma vírgula mal dirigida a mim, naquele momento, era motivo pra um auê que só vendo! Mas talvez por isso também tenha sido a fase em que mais livros bem lidos eu tracei, por exemplo. E mais textos escrevi. Eu me sentia realmente muito mais sensível. Tenta ver sob que ângulo você pretende enxergar tudo isso e dá teu pulo do gato!

Pensando sobre essa TPM sem M que a gente vive durante a gravidez, tenho cada vez mais certeza de que é só mais uma forma que a natureza tem de ajudar a nos fazer mães, pouco ou pouco, antes de parir. Essa sensibilidade é tão angustiante quanto necessária para a próxima e eterna fase que está por vir: o nascimento do filho. Sim, eterna. Tanto Francisco quanto eu nascemos um tantinho a cada dia: ele, filho; eu, mãe. Nos sensibilizando às mudanças. Chorando de um lado, no berço; chorando do outro lado, do berço. Mas numa sensibilidade um pouco mais amadurecida, exatamente porque viveu esse processo de gestação por nove meses. Acredito realmente nisso. Ou foi mais uma historinha que criei pra tornar esse pedacinho mais fácil.

No mais, uma listinha para passar pelos maus bocados:

1) Permita-se a frescura. Sim. Quando alguma tia chegar dizendo “afe, essa menina tá é cheia dos não me toque. Na minha época era diferente… tive essas coisas não”, apenas ignore;

2) Se evitar um alimento que te faz mal começar a te dar faniquitos de ansiedade, corra atrás da batata frita mais perto de você. O que me leva ao próximo tópico:

3) Saiba urgentemente diferenciar o que é fome e o que é desculpa pra comer o que não deve. Importante: Não use seu filho para se enganar. É lição pra aprender desde já. Pratiquemos!;

5) Não tome remédios sem indicação médica. Parece óbvio, mas não custa ratificar. Se sofre de enxaquecas, como eu, numa crise, fale com seu médico e vá em algum hospital que tenha emergência obstétrica. Eles vão saber como medicar adequadamente;


4) Bom pra enjoo, bom pra ansiedade, bom pra hidratar: congele uva, água de coco e o que sua imaginação permitir e mastigue. Você vai se sentir menos atacada pra comer e bem espertinha, diga-se de passagem!  

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Engravidar é...

Até hoje estou tentando entender. Juro.

Foi como se minha existência desse um pulinho ali, me dizendo “volto já”, mas dobrou a esquina e nunca mais voltou. Depois que pari, passei meses sentada, esperando, até que decidi cair em mim, na nova “mim” e seguir em frente.

Engravidar não é uma fase, aprendi. É constante. Estou grávida até hoje. Começou e não tem fim. Porque se ser gestante é gerir um ser vivo, o que acontece após o parto? Bum, seguimos gerando esse mesmo ser vivo. E, adianto, é um projeto contínuo, mutável, tsunamístico, gigantesco, transformador, cansativo, mas delicioso.

Era agosto de 2015 quando tomei coragem e decidi fazer um teste de farmácia: estava ali, em menos de 10 segundos (certamente bem menos!), um filho. Francisco hoje tem nome, rosto, corpo, dentes (sete! Eeeeeeee!) e nove meses de existência extrauterina, mas naquele momento ele era um divisor de “eu's”. Eu morri ali, não vou mentir. E toda morte traz tristeza, tem seu peso, sua dor. Chorei umas boas horas do meu falecimento sem saber disso, evidentemente, mas hoje entendo: eu chorava muito mais por mim do que por ele.

Meu filho não demorou pra tomar minha existência pra ele. É surreal a forma como isso acontece. De repente, tudo vira ao avesso. E engravidar é entender o mais rápido possível isso.

O corpo te ajuda (?) muito nesse processo de cair em si. Em poucas semanas, os enjoos. Os meus, por exemplo, foram cruéis. Se eu comia pra passar o enjoo, eu vomitava. Se eu vomitava, ficava com fome. Se eu sentia fome, eu tinha enjoo… e era esse ciclo sem fim. Quando, por ventura, eu conseguia comer na “medida certa”, vinha o sono. Mas não era um sono normalzinho, pós-almoço, era uma pane no sistema. Se eu não me deitasse, eu tinha plena certeza de que cairia no chão. Eu sentia pena das mães trabalhadoras do meu Brasil que, com 1h de almoço, precisava voltar ao batente “de boas”. No meu caso, desempregada, eu me dei valendo ao luxo de dormir horas e mais horas desse sono avassalador.

Grávida, eu tinha medo de sair de casa. Medo de morrer de fome, medo de cair de sono, medo das inseguranças do mundo e meu bucho avançado pra frente como se fosse capaz de deter qualquer coisa. Sempre achei que o bebê pudesse ser mais bem guardado anatomicamente. Sei lá. Achava muito exposta essa proeminência abdominal pra frente. E, pra completar, a cereja do bolo foi que em 2015, como se não bastassem todas as misérias do mundo, descobriu-se o zika vírus. Então, era grávida gritando, menino chorando, papagaio correndo, cachorro latindo e eu vestindo casaco, legging, meia e sapato fechado num ônibus lotado Rio Doce/CDU. Morreria de calor, decerto, mas jamais pegaria zika, meu amigo! Vem ser grávida assim no Brasil, vem!

Gravidez é para fortes. E com isso não chamo de fracas as que não desejam ter filhos de jeito nenhum (tópico pra outro texto, com certeza!).

Para os mosquitos, não tinha jeito: repelente, casa, roupas apropriadas e um pouquinho de fé em Deus. Para os enjoos, terminei descobrindo com minha amiga Suzane que picolé de limão é a solução. Depois disso, desenvolvi algumas evoluções pra isso, congelando uvas e água de coco. Então o tempo foi passando, a barriga crescendo e o amor tomando o espaço da dúvida; o amor percorrendo o corpo, sendo o sangue dessas novas veias, as maternas, que têm fibras muito firmes, que alimentam e que nos retroalimentam também.


Descobri que a gravidez não explica, mas complica a gente num novelo no qual ainda ando meio perdida, tentando achar o fio dessa meada, que vem aguçando a cada dia minha curiosidade, minha maturidade pra enfrentar todas essas transformações. Sem dúvida alguma, mais forte, muito mais forte.

A primeira carta de Francisco

a Sara Holmes

Betina,

Nesses primeiros meses de existência, tudo parece meio confuso mesmo. O mundo balança, é morno e talvez rolem algumas cambalhotas involuntárias. Já passei por isso, sei como é. Tem hora que bate fome; a gente ainda nem sabe o que é fome, mas é uma carência de coisa. Depois bate um sono; a gente também não sabe o que é sono, talvez uma fraqueza. É bem escurinho aí dentro e úmido, mas morno. Aos poucos a gente acostuma com o balanço, com o soninho e até curte. Minha mãe me disse que nesses primeiros meses de vida, ela ia se acostumando junto comigo a existir. E sentir tontura, enjoo e um sono e fome impossíveis. Era uma vida nova a dela também.

Tenha um pouco de paciência com a sua mãe. Ela está aprendendo a existir tal qual a minha. Então, vai rolar sim umas comidas tronxas, uns chacoalhões aí dentro e talvez, muito talvez, uns ruídos altos. Sua mãe vai tentar mudar o mundo pra você, mas às vezes o trânsito, às vezes as ruas, às vezes a vida dos outros. Vida dos outros é outra coisa com a qual é bom você ir se acostumando. A gente ainda (todos nós) não aprendemos onde começa a deles e termina a nossa. Então, pode ser que tentem te enfiar uma chupeta. Só confia na tua mãezinha. Ela não sabe, mas sabe mais das coisas do que ela mesma acredita. É difícil mesmo de entender. Mas vocês hão de se entender.

Quando você apareceu na vida dela em forma de dois tracinhos num pedacinho de papel, nasceu ali também uma coisa chamada maternidade. A sociedade é um pouco impaciente com isso, parece que ainda não entendeu muito bem o que é, muito embora a maternidade seja – me perdoe a obviedade - a mãe de tudo, literalmente. Sejamos otimistas!

As coisas vão entrando nos eixos. Logo, logo, teu espaço aí dentro vai ficar mais apertadinho. Às vezes vai parecer mais aconchegante, mas uma hora você vai esticar braços e perninhas pedindo arrego à sua mãe. A minha era pequenininha e me contou que a sua é também, mas o coração, ah, esse é do tamanho do mundo. Então tenha mais um bocadinho de paciência, você cresceu e, logo, logo, ela vai te liberar pra o mundo. Mãe tem essa natureza de preparar, vai vendo.

Betina, no dia em que você nascer, eu já terei mais de um ano de vida. Serei o dono dos conceitos e experiências. Se você quiser, eu te ajudo a dormir. Dormir é difícil que só: dá choro, dá raiva, dá um monte de coisa que ainda preciso de mais um ano de vida pra saber os nomes, mas que dá, dá. Aprendi que fechar o olho ajuda, sentir o cheiro da mamãe também. Minha mãe tem cheirinho de paz. A sua há de ter também. Só confia. Confia e chega logo. A gente tá numa ansiedade só pra te conhecer. O mundo é bom, vem se juntar à gente pra ver se ele fica ainda melhor!

Um carinho babado (porque ainda não sei dar beijo),

Francisco.


O verbo do bebê

Bebês não falam imediatamente quando nascem. Muito embora tentem, a todo custo, transmitir pra gente, em especial, às mães, suas vontades/necessidades. Acho que por isso mesmo, nossos filhos nascem chorando.

É o som com o qual devemos nos acostumar desde cedo. Mas engana-se quem acha que é um alarido só. São muitos, de diversas entonações e intensidades. Talvez sejam imperceptíveis essas diferenças aos outros, mas a mãe aos poucos vai tomando o conhecimento dessas diversidades e fazendo as devidas associações. Tem choro de fome, choro de sono, choro de irritação, dor, tédio, fralda suja, falta…

Eu tinha pânico do primeiro gritinho que Francisco dava. Por isso mesmo que, quando ele dormia, ao contrário do que se esperava, eu não pegava no sono também, mas ficava numa espera constante do próximo choro. E isso acontece até hoje, mesmo que de uma forma menos evidente para mim. Acho que foi se misturando com todas as outras coisas que vão mudando na gente. Ser mãe é um estado de virgília.

Em outras palavras, há 9 meses que não durmo. Há 9 meses que eu evito o choro. O choro passou a ser pra mim um calendário, um relógio e o termômetro de bem-estar do meu filho. Se ele chora pouco, ele tá bem. Era isso que eu pensava.

Acontece que agora, às vésperas dos 9 meses de Francisco, eu entendo que assim como mudam as entonações do choro, mudou também a perspicácia desse chamado. Sim, hoje em dia ele me chama. E por outros novos motivos que ele aprendeu com a experiência. Não é “manipulação”, como falam. Acho bizarro quem acredita que uma criança tem maturidade pra manipular alguém. Ele apenas sente que precisa. Ele me chama por todos os motivos anteriores, da época em que ele era recém-nascido e movido muito mais pela natureza de seus instintos do que por racionalidade, mas chama também por questões novas, trazidas com o amadurecimento.

Então, ele chama porque 1) ele sabe que eu vou e 2) ele me prefere. Sim. Ele me prefere entre as inúmeras possibilidades de pessoas ao seu redor. E isso ele aprendeu. Ele aprendeu que desde muito cedo eu era a mulher que realizava todos os seus desejos, supria todas as suas necessidades e transmitia pra ele segurança, principalmente esta.

Mas ele tem pai, avó, avô, babá, tios. Todos prontos pra abrir os braços pra ele. E Francisco ama todos esses braços, mas se eu estirar os meus…

Então foi percebendo isso que se deu meu primeiro rompimento com a ditadura do choro. Eu entendi que há um choro, entre os inúmeros outros, que é preciso ser vencido e não afagado. É o choro que dói mais na mãe do que no filho: o choro do des-envolver.

Sair do envolvimento da mãe é dar um passo grande para que o filho se torne social. Não é de um dia pra o outro virar as costas para o neném que lhe estendeu os braços, mas mostrá-lo aos poucos que há outros abraços maravilhosos a receber e que isso não significa que os da sua mãe deixarão de existir.

Estou muito madura aqui falando sobre isso, mas, acredite, pesa. Neste momento, Francisco tem quase 9 meses e inicia sua sustentação em pé, e eu… eu, bem, eu estou engatinhando nessa história.

Mas, oremos!